Trigo contaminado com glifosato é encontrado em silos no RS e no PR.

Ao todo são 2.850 toneladas estocadas em Ponta Grossa, no Paraná, e Marau, no Rio Grande do Sul.

Trigo contaminado com glifosato é encontrado em silos no RS e no PR.

Um enorme estoque de trigo contaminado com agrotóxicos proibidos ou em níveis acima do permitido por lei foi encontrado em um silo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e em outro armazém que pertence à empresa gaúcha Unnilodi, mas que presta serviços à estatal. Ao todo são 2.850 toneladas estocadas em Ponta Grossa, no Paraná, e Marau, no Rio Grande do Sul.

A descoberta foi feita pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) durante uma pesquisa para analisar perdas qualitativas e quantitativas na fase de armazenamento do grão. Pesquisadores identificaram quantidades de glifosato 100 vezes acima do limite seguro para o consumo humano.

“Provavelmente [o glifosato] foi usado para dessecação do trigo, que é uma prática que não é recomendada, mas alguns agricultores utilizam para adiantar o plantio da soja e uniformizar a lavoura”, explica Casiane Tibola, pesquisadora da Embrapa que coordenou o estudo. Além de não recomendado, o uso do agrotóxico para essa finalidade é proibido no Brasil.

Em uma das amostras retiradas do estoque em Marau, os pesquisadores registraram concentração de 5,206 mg/kg de glifosato. O limite máximo de resíduo permitido é de 0,05 mg/kg, valor 100 vezes inferior. A equipe da Embrapa monitorou os dois estoques por dez meses, de fevereiro a novembro de 2018 e encontrou várias substâncias em níveis fora da lei.

Por meio da assessoria, a Embrapa informou que as irregularidades foram comunicadas ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), mas não informou em qual data. O que é certo é que a Conab, órgão vinculado ao Mapa, teve acesso à pesquisa, que foi divulgada publicamente nesta semana em Curitiba.

A Conab informou em nota que o trigo contaminado com glifosato está estocado apenas no armazém de Marau, que é de uma empresa terceirizada: “O armazém contratado tem a obrigação de guardar e conservar os estoques públicos, disponibilizando-os para Conab na mesma quantidade e qualidade em que foram depositados”. Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam, contudo, que o mais provável é que o glifosato tenha sido usado na pré-colheita e, portanto, que os grãos tenham chegado já contaminados ao armazém.

“O número [do glifosato] me assustou porque é o trigo que eu como em forma de pão, de pizza, de macarrão”, diz Paulo Cesar Corrêa, agrônomo e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais. Ele não participou diretamente do estudo, mas foi um dos técnicos que contribuíram para o conjunto de pesquisas encomendadas pela Conab sobre armazenamento e transporte de grãos no país e acompanhou a divulgação dos dados da Embrapa.

Apesar da elevada concentração de agrotóxicos, a autora do estudo classifica que o “problema foi pontual” e que “muitas ações de boas práticas foram efetuadas para que os produtores não utilizassem o glifosato”.

O trigo contaminado é oriundo de Pato Branco e, pelo tamanho do estoque, seria de vários produtores – as empresas, contudo, não foram reveladas. Os grãos foram adquirido pela Conab entre dezembro de 2017 e janeiro de 2018. Segundo apurou a reportagem, boa parte dos grãos continua armazenada nos silos. São 1.650 toneladas em Marau e, das outras 1.200, pelo menos uma parte continua estocada em Ponta Grossa.

Existe a possibilidade de que esse trigo possa chegar à nossa mesa? “Eu como moinho não posso aceitar esse produto com princípio ativo não regulamentado”, diz o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná (Sinditrigo-PR), Daniel Kümmel. Segundo ele, os moinhos não compram trigo cujos parâmetros não se encaixam na legislação e afirma que os produtores rurais têm consciência das práticas de manejo do grão. “Se aconteceu é uma particularidade”, afirma.

O glifosato é o herbicida mais utilizado no Brasil – 173 mil toneladas foram comercializadas em 2017 – e foi por muito tempo classificado como “extremamente tóxico” pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas em 27 de agosto, 93 produtos à base da molécula tiveram a classificação de toxicidade reduzida, de acordo com levantamento da agência A Pública.

Procurado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) se posicionou por meio de nota. Confira a íntegra:

“O Ministério da Agricultura tomou conhecimento da situação, que ocorreu em 2017, e participou da discussão sobre os problemas levantados. Foram realizadas coletas oficiais pela equipe do Mapa nos mesmos silos e os resultados indicaram níveis mais baixos.

A preocupação levantada pela Embrapa nessa pesquisa foi importante, pois, no caso do glifosato, está apontando o uso de um produto que não está autorizado para a cultura. Esse fato demonstra a necessidade de desencadear programas de fiscalização do uso de agrotóxicos pelos órgãos estaduais, que têm a competência legal para essa atividade.

Quanto ao demais produtos, nas amostras oficiais realizadas posteriormente observamos que também houve degradação, sendo que no caso do pirimifós-metilico não foram detectados nem traços do produto.

O Mapa monitora não só os grãos como outros produtos através do Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC). As amostras são coletadas conforme cronograma estabelecido previamente. Quando constatada uma violação, os resultados são enviados para os órgãos estaduais realizarem a investigação da origem do problema, pois como informado acima, cabe aos órgãos estaduais fiscalizarem o uso de agrotóxicos.

No caso da legislação da classificação vegetal, as multas podem chegar até R$ 532.050,00, pois é calculada sobre o valor do produto. Também pode haver a apreensão do produto”.

 

 

Fonte(s): Gazeta do Povo
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